sexta-feira, 11 de março de 2011

Esta vida é uma estranha hospedaria de onde se parte quase sempre as tontas, pois nunca nossas malas estão prontas e nossa conta nunca esta em dia...
Mário Quintana

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

“Não existe uma fórmula para o sucesso. Mas, para o fracasso, há uma infalível: tentar agradar a todo mundo”.
 Herbert Bayard, diretor do New York World, na década de 1950, EUA

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A coragem não é necessária apenas nos entreveros das batalhas, mas na hora crucial da decisão entre o bem e o mal.

Benjamin Franklin
 Entre a lembrança do passado e a expectativa do futuro, há uma estreita passagem chamada Agora em que o tempo não entra.

As verdades descobertas pela inteligência permanecem estéreis. Só o coração é capaz de fecundar seus sonhos. Ele dá vida a tudo que ama. É pelo sentimento que as sementes do bem são lançadas ao mundo.

Jacques Anatole François Thibault
Eduquem os meninos e não será preciso castigar os homens.

Pitágoras
Não te atormentes pelo que passou. Volta-te para as coisas vindouras.

 Tseng Kuang

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O ato gratuito

Muitas vezes o que me salvou foi improvisar um ato gratuito. Ato gratuito, se tem causas, são desconhecidas. E se tem consequências, são imprevissíveis.

O ato gratuito é o oposto da luta pela vida e na vida. Ele é o oposto da nossa corrida pelo dinheiro, pelo trabalho, pelo amor, pelos prazeres, pelos táxis e ônibus, pela nossa vida diária enfim - que esta é toda paga, isto é, tem o seu preço.

Uma tarde dessas, de céu puramente azul e pequenas nuvens branquíssimas, estava eu escrevendo à máquina - quando alguma coisa em mim aconteceu.

Era o profundo cansaço da luta.

E percebi que estava sedenta. Uma sede de liberdade me acordaria. Eu estava simplesmente exausta de morar num apartamento. Estava exausta de tirar idéias de mim mesma. Estava exausta do barulho da máquina de escrever. Então a sede estranha e profunda me apareceu. Eu precisava - precisava com urgência - de um ato de liberdade: do ato que é por si só. Um ato que manifestasse fora de mim o que eu secretamente era. E necessitava de um ato pelo qual eu não precisava pagar. Não digo pagar com dinheiro mas sim, de um modo mais amplo, pagar o alto preço que custa viver.

Então a minha própria sede guiou-me. Eram 2 horas da tarde de verão. Interrompi o meu trabalho, mudei rapidamente de roupa e desci, tomei um táxi que passava e disse ao chofer: vamos ao Jardim Botânico. "Que rua?" perguntou ele. "O senhor não está entendendo", expliquei-lhe "não quero ir ao bairro e sim ao Jardim do bairro." Não sei por que olhou-me um instante com atenção.

Deixei abertas as vidraças do carro, que corria muito, e eu já começara minha liberdade deixando que um vento fortíssimo me desalinhasse os cabelos e me batesse no rosto grato de olhos entrefechados de felicidade.

Eu ia ao Jardim Botânico para quê? Só pra olhar. Só pra ver. Só pra sentir. Só pra viver.

Saltei do táxi e atravessei os largos portões. A sombra logo me acolheu. Fiquei parada. Lá a vida verde era larga. Eu não via ali nenhuma avareza: tudo se dava por inteiro ao vento, no ar, à vida, tudo se erguia em direção ao céu. E mais: dava também o seu mistério.

O mistério me rodeava. Olhei arbustos frágeis recém-plantados. Olhei uma árvore de tronco nodoso e escuro, tão largo que me seria impossível abraçá-lo. Por dentro dessa madeira de rocha, através de raízes pesadas e duras como garras - como é que corria a seiva, essa coisa quase inatingível e que é a vida? Havia seiva em tudo como há sangue em nosso corpo.

De propósito não vou descrever o que vi: cada pessoa tem que descobrir sozinha. Apenas lembrarei que havia sombra oscilantes, secretas. De passagem falarei de leve na liberdade dos pásaros. E na minha liberdade. Mas é só. O resto era o verde úmido subindo em mim pelas minhas raízes incógnitas. Eu andava, andava. Às vezes parava. Já me afastara muito do portão de entrada, não o via mais, pois entrara em tantas alamedas. Eu sentia um medo bom - como um estremeciemento apenas perceptível de alma - um medo bom de talvez estar perdida e nunca mais, porém nunca mais! achar a porta de saída.

Havia naquela alameda um chafariz de onde a água corria sem parar. Era uma cara de pedra e de sua boca jorrava a água. Bebi. Molhei-me toda. Sem me incomodar: esse exagero estava de acordo com a abundância do Jardim.

O chão estava às vezes coberto de bolinhas de aroeira, daquelas que caem em abundâncias nas calçadas de nossa infância e que pisávamos não sei por quê, com enorme prazer. Repeti então o esmagamento das bolinhas e de novo senti o misterioso gosto bom.

Estava com um cansaço benfazejo, era hora de voltar, o sol já estava mais fraco.

Voltarei num dia de muita chuva - só para ver o gotejante jardim submerso.

Clarice Lispector.